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1. Importância da obra 
A importância do teatro de Ariano Suassuna está ligada ao fato de ele ser o único dramaturgo contemporâneo brasileiro comprometido com as fontes populares de nossa cultura. Inspirando-se em autos anônimos, na literatura de cordel e nos espetáculos de mamulengos (tipo de fantoches), Suassuna constrói seus enredos e personagens, mas sem elaborar, a partir dessas fontes, um teatro que se pretenda culto ou elitista. 
Esse compromisso com uma cultura genuinamente brasileira, no entanto, não impede o escritor de se voltar às tradições do teatro português, principalmente Gil Vicente, e de tentar uni-las à vida sertaneja. Assim, se suas peças teatrais refletem uma pequena parcela da realidade nacional – quase sempre centralizada na Paraíba –, não deixam de apresentar clara influência ibérica.  
Deve-se esclarecer, contudo, que a preocupação de Suassuna não é a de realizar uma pesquisa ou investigação sobre o Nordeste, mas apenas recriar, de forma poética, as tradições dessa região, baseando-se inclusive nos próprios folhetos da literatura de cordel.  
De maneira simples e despojada, sem grandes preocupações psicológicas, esse dramaturgo paraibano escreve na contramão do teatro ocidental, desprezando as experiências de vanguarda ou os modismos importados da Europa e dos EUA. Seu único comprometimento, como afirmamos acima, é com a cultura popular.  
Talvez por esse motivo a dramaturgia de Ariano Suassuna apresente uma leitura religiosa dos inúmeros problemas sociais que afetam o Nordeste, afinal, nosso povo é profundamente religioso. Às diferenças sociais, por exemplo, o escritor não propõe uma solução política ou ideológica, mas afasta-se dessas possibilidades e prefere retomar o caminho da religiosidade de influência católica, trabalhando com passagens bíblicas e textos que tratam de temas semelhantes.  
No teatro que nasce dessas opções – marcado inclusive pela figura de Nossa Senhora, capaz de interceder em favor dos homens junto ao seu Filho, Jesus Cristo –, as diferenças sociais se resolvem por meio de desfechos simples, nos quais os pobres ganham o céu, os humildes são exaltados e encontram justiça, enquanto os ricos são lançados ao fogo do inferno. 
No teatro de Ariano Suassuna, a vida é um espetáculo dirigido por Deus.  
2. Resumo do enredo  
A peça Auto da Compadecida foi escrita por Ariano Suassuna em 1955. O Palhaço é o personagem que abre a peça, anunciando o que todos irão assistir: “Auto da Compadecida! O julgamento de alguns canalhas, entre os quais um sacristão, um padre e um bispo [...]”. Depois de um toque de clarim, o Palhaço completa, dizendo claramente o que acontecerá: “A intervenção de Nossa Senhora no momento propício, para triunfo da misericórdia”.  
A peça trata das aventuras de Chicó e de João Grilo, seu amigo. Dora, mulher do padeiro, para quem Chicó trabalha, solicita ao padre que benza sua cachorra, pois ela está doente. O padre se nega, a cachorra morre e o casal pede que seja feito o enterro, mas em latim. Diante da negativa do padre, Chicó intervém e mente, dizendo ao padre que a cachorra deixara um testamento, no qual dá à Igreja três contos de réis. O padre, então, aceita fazer o enterro, mas sofre a censura de seu superior, o bispo, a quem Chicó mente ainda mais, dizendo que a cachorra deixara seis contos de réis para a Igreja. Diante da notícia, o bispo muda imediatamente de opinião. 
Mas Chicó e Grilo continuam criando problemas para si mesmos. Enquanto o primeiro quer namorar com a filha do Major, principal autoridade do lugarejo, o segundo está interessado no dote da jovem. Enquanto cangaceiros se preparam para atacar a cidade, Grilo monta um plano: o falso duelo entre dois outros interessados na moça, de maneira a dar a impressão de que Chicó era o mais corajoso. O plano dá certo e Chicó é apresentado ao Major como pretendente, mas ele e seu amigo mentem mais uma vez, dizendo que Chicó é um rico fazendeiro.  
As peripécias se sucedem, tornando a vida desses dois mentirosos – verdadeiros anti- heróis – uma completa confusão. A entrada dos cangaceiros na cidade complica ainda mais as coisas. Os dois amigos conseguem enganar o chefe dos bandidos, Severino, que acaba morto, acreditando que eles de fato lhe tinham dado uma gaita com poder de ressuscitar as pessoas. Mas Grilo é assassinado por um comparsa de Severino. 
A seguir, várias das pessoas que foram mortas pelos cangaceiros se reúnem no além, à espera de julgamento. Quando estão todos prestes a serem mandados para o Inferno, Grilo pede a intercessão de Nossa Senhora, no que é atendido. Graças à mãe de Jesus, todos vão para o Purgatório. Grilo, contudo, é premiado – e volta da morte, a fim de ter uma segunda chance. No fim, depois que Chicó e a filha do Major se casam, mas recebem um dote em dinheiro que já não tem mais valor algum, eles se unem a Grilo e partem do lugarejo. No final da peça, em plena viagem, repartem a única comida que levam com um mendigo (na verdade, Jesus Cristo). 
3. Biografia do autor 
Ariano Suassuna nasceu na cidade de João Pessoa, Paraíba, no dia 16 de junho de 1927. Faz o curso primário em Taperoá e, em 1942, muda-se com a família para a cidade de Recife, em Pernambuco, onde prossegue os estudos. Em 1946, entra para a Faculdade de Direito, quando conhece um grupo de romancistas, atores e poetas, com os quais funda o Teatro de Estudantes de Pernambuco. Forma-se advogado em 1950.  
É de 1947 a sua primeira peça de teatro, Uma Mulher Vestida de Sol , baseada no romanceiro popular do Nordeste. Com ela, ganha o prêmio Nicolau Carlos Magno, em 1948.
Ariano Suassuna foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura, do qual fez parte de 1967 a 1973, e do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, no período de 1968 a 1972. Em 1969, é nomeado diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco, ficando no cargo até 1974.  
No dia 18 de outubro de 1970 lança o Movimento Armorial (cujo objetivo é criar arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro). De 1975 a 1978 atua como secretário de Educação e Cultura do Recife.  
Doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1976, trabalhou como professor da mesma universidade por mais de trinta anos, ensinando Estética e Teoria do Teatro, Literatura Brasileira e História da Cultura Brasileira. 

Em agosto de 1989, foi eleito por aclamação para a Academia Brasileira de Letras, tomando posse em maio de 1990.



- Extraído do Dossiê: O Auto da compadecida , de Ariano Suassuna.



CIA.REVOADA EM MONTAGEM DO AUTO DA COMPADECIDA DE ARIANO SUASSUNA

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